Imagine-se criança, em sua primeira vez num circo. Palhaços, ursos, leões e trapezistas. Motos no globo da morte, risadas, olhos brilhantes. Ou num parque de diversões, perdido no meio de rodas-gigantes, montanhas-russas, bate-bates e trens-fantasma. É quando você se esquece de chorar.
Imagine-se adolescente, acometido pela sua primeira paixãozinha juvenil. Quando aquela pessoa passa, o coração bate forte. São dias sonhando acordado; noites em claro, pensando em como se fazer notar. Num dia, enfim, o milagre acontece: ela finalmente olha para você. É quando você se esquece de respirar.
Você cresce, escolhe uma profissão e começa a estudar para entrar na faculdade. Você tem um objetivo e passa um ano esquecendo-se das saídas com os amigos, das bebedeiras dos fins de semana, dos shows imperdíveis. Até que chega o dia do resultado. A vitória. Gritos, prantos, risadas, cabeça raspada e muita comemoração. É quando você se esquece do bom senso.
Faculdade. Novos amigos, novas festas, mais liberdade. Tudo de uma vez. Provas, reprovações, trabalhos, cursos de férias. Nem os fins de semana são seus. Congressos, viagens, publicações. É quando você se esquece da monotonia.
Agora você é adulto. As obrigações são mais urgentes, os prazeres mais valiosos. O dinheiro é contado, o trabalho é intenso, os fins de semana são para descanso. A cabeça nunca mais foi vazia. Você se esquece de ser irresponsável.
É quando nasce seu primeiro filho. Você acompanha os primeiros passos, as primeiras palavras. Leva à escola, esportes, cursos. Está ao lado dele nos melhores e piores momentos. E em cada um deles, você se esquece que homens crescidos não choram.
Então você envelhece. A história da sua vida rende narrativas longas e interessantes. Os netos se espalham ao seu redor para ouvir suas palavras de sabedoria. E, naquele momento, você lembra do passado e se esquece de ter pena de si mesmo.
Esquecer nem sempre é ruim. De vez em quando, é bom deixar de lado as preocupações, as derrotas, as tristezas. Esquecer as pessoas que lhe fazem mal. Esquecer os sentimentos ruins.
Apenas não se esqueça nunca de viver.
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