Vivo do que escrevo e escrevo para viver. Estou em cada palavra que delineio, ao mesmo tempo em que não me pareço com nada que crio. Reconheço cada uma das minhas frases, apesar de muitas vezes não acreditar que pude escrevê-las. Quem sabe não fui mesmo eu quem as escrevi.
Uma, duas palavras, três, uma frase. Pego um pedaço de papel e continuo traçando as malfadadas linhas ditadas pela minha existência. Sem rima, com rima. Prosa, talvez poesia. Mesmo que fosse prosa, certamente poesia. O desespero ataca, quando aparece o sentimento. Então escrevo, escrevo mais do que alguém poderia imaginar. Porém, menos do que poderia, se o canal do cérebro para os dedos não fosse tão longo. Pensamentos se perdem, palavras são esquecidas, sentimentos acabam no limbo de lugar nenhum. Mesmo assim, apesar de tudo, não deixo de escrever.
Eu escrevo, mas minha vida já foi escrita há muito tempo e eu venho apenas copiando as linhas que nunca li. Mas reconheço. Sei que fui concebida na união de duas palavras. Nasci quando o primeiro verso foi escrito. Cresci em cada letra desenhada com lápis de cor. Inventei parágrafos novos, inusitados, clichês, polêmicos, românticos, ácidos. Casei-me com a música que vi no mundo. Reproduzi cada pensamento que pude palavrear. Brinquei com as figuras de linguagem, discuti com os paradoxos, senti as sinestesias. Repeti os pleonasmos, dei vida às prosopopéias. Fui simples como um eufemismo e imenso como a hipérbole. Até que aprendi com cada metáfora e envelheci como as páginas amareladas de um livro.
Morri, quando a inspiração acabou.
"It’s only wordsWords are all I haveTo take your heart away."*
*Música: Words
24 comentários:
E é essa capacidade de escrever, mesmo sem reconhecer, que vêm e nos revela quem somos...
Um beijo, e uma ótima semana!
Luana Ferraz | Homepage | 07.12.09 - 12:58
Uma vez mais, um texto mt bem escrito, de deixar qualquer um com inveja. hehehe
Realmente, a sensação da escrita é particular a cada um, mas todos que escrevem com certeza se identificam em alguns aspectos, e é mt legal me reconhecer, mesmo que só um pouquinho, num texto desses.
Beijos!
Marcelo | Homepage | 07.12.09 - 1:53 pm
Pois é, passo um tempo ausente e, quando apareço, dou de cara com as semelhanças e coincidências.
Hoje também publiquei algo sobre as palavras, não sobre mim, sobre elas...se é que podemos apartá-las de nós.
Beijo, Marina.
Saudades.
Magna
Magna | Homepage | 07.12.09 - 5:33 pm
Perfeito!
Álisson da Hora | Homepage | 07.13.09 - 12:46 am
todo metafórico e entrelaçadozinho
:D
Bacanão
ZeH | Homepage | 07.13.09 - 1:43 am
Marina
Esse texto é um dos mergulhos mais profundos do seu blogue. É maravilhoso como constrói as imagens e como desconstrói a si mesma usando as palavras.
Adorei, e talvez tenha adorado ainda mais por te adorar.
Beijos
Bruno Portella | Homepage | 07.13.09 - 8:24 pm
Texto lindo como sempre! Fiz um wordle p/ você e deu certo. Me passa seu e-mail no sessaodas8@gmail.com que eu te mando.
Beijo
Leonardo | Homepage | 07.14.09 - 1:22 am
Nem sei que palavras usar para dizer como admiro esse texto! Lindo, Marina, certamente um dos melhores já escritos por você!
Renato | Homepage | 07.14.09 - 9:21 am
marina inspirada...
que bom!
bj
tarcísio buenas | Homepage | 07.14.09 - 7:04 pm
Intenso, vivo e contagiante. Somente quem se aventura a escrever, bem ou mal, mas que se dedica à tarefa, pode sentir o amor no texto.
Como é gostoso ler textos bem escritos que não nos gritam grosserias, não revelam indelicadezas e não nos envenenam com a desesperança...
Ler pelo prazer de transformar símbolos em imagens, sons e sentimentos. Escrever pelo prazer de poder vivenciar o sentimento sem perder os detalhes.
Parabéns pelo seu texto e que a inspiração continue a ser sua companheira.
Beijos
Rafaela Vizarim | 07.14.09 - 9:06 pm
Que texto mais lindo! Muitas vezes pego-me lendo antigos diários, antigos blogs - antigos mesmo! De quando eu tinha uns 15 anos, saca? - e me deparo com versos, poeminhas e sentimentos escritos de uma forma da qual eu nem mesmo me recordo o dia em que eu escrevi, o que eu estava pensando ou quem sabe até o que me fez escrever aquilo daquela forma, sabe? Como já disse em um post anterior, adoro escrever tudo que sinto em uma folha de papel - quer fique claro o sentimento ou não, eu escrevo! Gosto de imaginar um dia essa folha sendo lida por meus filhos ou por algum estranho daqui muitos e muitos anos... Beijos, linda!
Andressa Serena | Homepage | 07.15.09 - 12:31 am
Você me inspira.
Obrigado.
Dalleck | Homepage | 07.16.09 - 5:39 pm
Palavras que são sentimentos.
Vives enquanto sentes, portanto.
Abraços!
Eduardo Trindade | Homepage | 07.16.09 - 10:39 pm
Acho q ate sem inspiração ou depois de morrer continuará escrevendo, pq o faz muuito bem.
Besos
D.Ramírez | Homepage | 07.17.09 - 9:59 am
belíssimo!
concordo com cada letra, cada frase sua.
muito bom.
abraços libertários
Pensador made in Vaso | Homepage | 07.17.09 - 11:11 am
Não são só palavras.
Aliás, são. Mas as palavras, na sua mão, ganham outra dimensão.
Lindíssimo.
Rob Gordon | Homepage | 07.17.09 - 4:31 pm
Nascida junto a primeira letra, cresce a medida que o poema é feito...morrer? jamais
lindo dia flor
beijos
Márcia(clarinha) | Homepage | 07.17.09 - 6:04 pm
"Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra"
Muito bom o texto. Parabéns!
Thiago | Homepage | 07.17.09 - 7:04 pm
Que maravilha o universo ter feito você comentar em meu blog em um dia em que eu não tenho nada pra fazer, e que com isso eu pudesse vir aqui retribuir a visita.
Acho que este post foi a coisa mais bonita que li este mês. Brincando com as palavras e sensações você veio trazendo coisas nas quais me vi refletido. E o final, bem ao meu estilo de escrita, é uma quebra de sentimentos ao mesmo tempo seca e ao mesmo tempo doce.
Enfim, eu reli o texto após ler a primeira vez, e o encanto apenas se dobrou.
Lindo, lindo mesmo. Daqueles textos que irei comentar sobre ele com os amigos. Sim, eu sou assim, eu gosto de espalhar aquilo que gosto, que me encanta, que acho bonito. E isso aqui é um deles.
Escreva mais assim. Ou não escreva. Talvez a raridade multiplique o valor da coisa em si. E este texto vale como um diamante. Tudo bem que poderia ser mais longo. Gosto de me apegar ao texto, quando ele é assim. Mas talvez o exagero, ao contrario da raridade, acabe tirando o brilho de certas coisas simples e belas. Mas como a gente vive do que acontece, e não do que poderia ter acontecido, preciso parar de falar nas possibilidades e te parabenizar pelo o que li aqui. Parabéns mesmo por este texto simples, mas que mexeu tanto comigo. Continue assim, que eu fico grato.
Um Beijo.
Henrique Monteiro | Homepage | 07.18.09 - 4:31 pm
Se escrevendo pra viver tu escreve assim... que bom saber que vc viverá pra sempre... nunca vai morrer a sua forma linda em transformar sensações e sentimentos em palavras...
Que a inspiração abunde!
Beijo
Mågö Mër£îm | Homepage | 07.18.09 - 7:30 pm
Correspondi-me. Acho que pode ser até comum, mas quando escrevemos todas essas coisa nos tornam especiais e únicos.
Léo | Homepage | 07.18.09 - 9:42 pm
ops. "coisas"
Léo | Homepage | 07.18.09 - 9:43 pm
Agora eu entendi.
Se fosse um texto normal, teria poucos comentários. Mas aí você apelou e resolveu fazer uma verdadeira poesia em prosa, um laço completamente sincero sobre vida e arte, que qualquer pessoa que ame escrever consegue sentir, consegue viver. Uma declaração apaixonada sobre algo que você faz muito bem.
23 é pouco!
Que a tua inspiração seja eterna.
v.h. | 07.19.09 - 4:20 am
Marina,
nunca tinha parado para ler seus textos. São muito bons mesmo! Inspiradores...
Parabéns!
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