terça-feira, 3 de maio de 2016

Flores


Naquela manhã, foram tulipas. Tulipas brancas, frescas e totalmente fora de estação. Elisa não entendia tanta coisa ali que o fato de alguém ter encontrado tulipas num dia como aquele chegava a ser irrelevante. O que realmente a deixava admirada e confusa era esse alguém saber que ela adorava tulipas brancas mais que qualquer outra coisa.

Precisas como um relógio, as flores sempre chegavam pontualmente às sete. E, desde que começaram, nunca pulavam um dia. Ontem, vieram rosas brancas; anteontem, vermelhas. Sempre foram rosas, até aquele dia. Se ela se esforçasse, poderia até pensar em um punhado de pessoas que lhe pudesse ter feito aquele agrado, mas terminava sem se decidir por nenhuma. E essa era sua grande frustração: era incapaz de determinar com clareza quem poderia ser esse seu admirador.

— Mais flores, hein? — perguntou-lhe o seu vizinho de porta, ao chegar carregado de compras e vê-la parada no corredor, o ramalhete nas mãos.
— Sim, tulipas.
— Estou vendo. São iguais àquelas de plástico que ficam em cima da sua mesa.
Não lhe havia ocorrido tal semelhança. O vizinho encontrou as chaves da própria casa no bolso e enfiou na fechadura.
— Então, ainda não descobriu quem mandou?
— Não. É impossível. Pensei em todas as pessoas que conheço, mas nenhuma delas demonstra nenhuma atenção especial comigo.
— Nenhuma?
— Nenhuma.
— Bom, com certeza você está deixando escapar alguém.
— Talvez. Quem sabe eu sequer conheça essa pessoa.
— Você acha?
— Acho. Não sei. Bom, preciso entrar agora.
— OK. Qualquer coisa, sabe que é só chamar.
— Sei, sim, obrigada. Você é um amigão. Não sei o que faria sem você.
Disse isso e entrou.
A partir daquele dia, Elisa não recebeu mais flores.

Imagem: © Corbis
Texto postado em 2009

2 comentários:

Lavínia Carvalho disse...

Gostei da história, apesar de o final ter sido "triste" :/
Com certeza era o vizinho quem mandava as folhes, né?
Muitas vezes o amor está na nossa frente e não somos capazes de ver.
Você escreve muito bem :)
Beijos ♥

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Marina disse...

Obrigadaa! <3
Finais "tristes" são meus favoritos. Faz pensar.
=**