Era mentira, eu bem sabia. Quanto mais ele falava, mais eu tinha certeza.
Começou com uma história frouxa sobre problemas no carro, depois seguiu
com uma lembrança vaga de ter se esquecido de abastecer. Arrematou com a
desculpa da chuva. Sempre a chuva. Coitada da chuva.
Eu olhava aqueles olhos, que não mais sequer desviavam dos meus ao
inventar acontecimentos, e cogitava há quanto tempo vinham tentando me
enganar. Nunca conseguiram. Conhecia-os desde sempre; reconhecia-os no
menino travesso da minha infância, que mentia pra mãe, pro pai, pra avó,
pra professora. Naquela época, já ensaiava as histórias que diria,
encontrava provas para incrementar, testemunhas para comprovar. Naquele
tempo, eu era cúmplice das histórias, ria com elas, ajudava a criar.
Éramos amigos. Acabei gostando dele assim. Desse jeito, mentiroso,
impossível. Não sabia que passaria de companheira de aventuras à pessoa
feita de idiota.
E
eu fui idiota, desde o começo. Jamais o imaginei diferente, apenas não
pensei nas consequências. Quanto à mentira, não foi a primeira e não
seria a última. E sempre que, ao fim de tudo, ele dizia "te amo", eu
pensava "não ama". Mas sorria. Quem o podia culpar?
"He can only be if you believe what he tells you"
3 comentários:
Intenso. Gostei. Marca bastante uma aura de submissão, né? Eu não consigo deixar de me perguntar: mas por que continuar?
Sou daquelas, orgulhosas kkk.
Bjooo!
Também não sei, Lady Salieri. Algumas pessoas diriam que o amor justifica tudo.
Tem gente que se sabe que pode sair ileso, faz e acontece mesmo, mas jurando muros e fundos para toda a população.
Beijos!
Querido Deus,obg por me exportar!
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