sábado, 16 de janeiro de 2016

Mentiras

Era mentira, eu bem sabia. Quanto mais ele falava, mais eu tinha certeza. Começou com uma história frouxa sobre problemas no carro, depois seguiu com uma lembrança vaga de ter se esquecido de abastecer. Arrematou com a desculpa da chuva. Sempre a chuva. Coitada da chuva.

Eu olhava aqueles olhos, que não mais sequer desviavam dos meus ao inventar acontecimentos, e cogitava há quanto tempo vinham tentando me enganar. Nunca conseguiram. Conhecia-os desde sempre; reconhecia-os no menino travesso da minha infância, que mentia pra mãe, pro pai, pra avó, pra professora. Naquela época, já ensaiava as histórias que diria, encontrava provas para incrementar, testemunhas para comprovar. Naquele tempo, eu era cúmplice das histórias, ria com elas, ajudava a criar. Éramos amigos. Acabei gostando dele assim. Desse jeito, mentiroso, impossível. Não sabia que passaria de companheira de aventuras à pessoa feita de idiota.

E eu fui idiota, desde o começo. Jamais o imaginei diferente, apenas não pensei nas consequências. Quanto à mentira, não foi a primeira e não seria a última. E sempre que, ao fim de tudo, ele dizia "te amo", eu pensava "não ama". Mas sorria. Quem o podia culpar? 
 
"He can only be if you believe what he tells you"
Imagem: stock.xchng

Postado pela primeira vez em junho de 2010

3 comentários:

Lady Salieri disse...

Intenso. Gostei. Marca bastante uma aura de submissão, né? Eu não consigo deixar de me perguntar: mas por que continuar?
Sou daquelas, orgulhosas kkk.

Bjooo!

Marina disse...

Também não sei, Lady Salieri. Algumas pessoas diriam que o amor justifica tudo.

Gisley Scott disse...

Tem gente que se sabe que pode sair ileso, faz e acontece mesmo, mas jurando muros e fundos para toda a população.
Beijos!


Querido Deus,obg por me exportar!