terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Espere, eles dizem

De todas as coisas chatas da vida, esperar é uma que sempre fiz muito bem. Esperar meu pai ir me buscar no colégio. Esperava. Esperar terminar as tarefas de casa para depois ir brincar lá fora. Esperava. Esperar crescer para poder sair à noite, conversar assunto de gente grande, ver filme de gente grande. Era paciente, esperava. O que esperei com mais impaciência foi o dia em que ia começar a aprender a ler. Mas esperei.

Era uma menina quieta, introvertida, tímida, chata, meio no meu canto, não mexam comigo e estaremos bem. Se não tivesse companhia, brincava de boneca sozinha, até crescer o bastante para parar de brincar de boneca. Aprendi a fazer colares com miçangas, até perceber que não eram bonitos o suficiente para se usar; fazia e desfazia, então encostei. Aí, aprendi tapeçaria, a bordar ponto-de-cruz, desenhar, pintar, escrever poesias, até um pouco de artesanato, enquanto todas as minhas amigas só estavam interessadas em precipitar tudo, paquerar, encher o saco dos pais e tentar ir a festas em que não poderiam entrar. Depois, em beber e fumar para aparecer. Eu não via sentido em apressar uma coisa que aconteceria naturalmente (ou não, no caso do cigarro), nem queria. Esperei. E, hoje, tanta gente com saudade, querendo voltar e aproveitar mais. Eu tenho saudade, mas nunca quis voltar.

Acho que gastei minha paciência toda nessa época. Agora, é um tal de esperar as coisas acontecerem e, há muito tempo, nada acontece. E a coisa mais insuportável é estar neste limbo e não saber nem se algo irá de fato acontecer. Antes, a única coisa de que tinha certeza na vida é que chegaria onde estou. Pronto, cheguei, eu tinha razão. Agora, não sei se existe algo para depois. Estou aqui, me formei, me especializei, me preparei, sei fazer; o que falta? Cadê a verdade que sempre me disseram que existia, a recompensa pelo trabalho duro, o material pra continuar? A continuação de tudo. Quando será que chega?

Espere, eles dizem. As coisas vão se acertar. A cada ano novo, uma esperança de que tudo irá melhorar. E eu aqui parada, diploma na mão, tantas possibilidades, e a realidade fria de esperar para sempre.


"Don't keep me waiting here
Lead me to your door"

4 comentários:

George Marques disse...

Esperar compensa às vezes, mas nem sempre. Tenho vontade de me encher de porradas quando deixo uma oportunidade passar porque esperei demais.

Unknown disse...

Esse texto resume bem o meu estado de espírito atual. Acho que deve ser a idade. Rsrs
Bjs :*

Marina disse...

Bem lembrado, Alladin. É a crise dos 30. hahaha

Mói de Fichas disse...

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