Estava passando por uma rua movimentada, nos confins da minha cidade, quando o vi. Era um senhor idoso; os cabelos bem brancos, raros em algumas partes da cabeça, corpo magro, rosto enrugado. Vestia uma roupa de fazer exercícios e um tênis com meias brancas. Não me chamaria maior atenção, não fosse o modo como ele caminhava. Andava curvado, ofegante, uma perna mancando ligeiramente, as mãos se movendo como se procurassem apoio. O mais incrível é que, mesmo assim, ele seguia em frente.
A calçada não era exatamente uma pista de cooper; cheia de buracos e mato crescendo em alguns locais, postes surgindo quando se menos esperava. Vi-o tropeçar uma vez e apoiar-se no primeiro poste que encontrou. Parecia extremamente cansado, como se a evidente carência de músculos na perna não fosse dar conta dos ossos e estes fossem se partir a qualquer instante. Mas não parava de andar.
Pensei nas vezes em que me senti cansada, depois de um dia de trabalho. Pensei nas tantas vezes em que me cansei da vida. Pensei até nos instantes em que a inspiração para criar me falta. A gente não consegue — nem precisa — estar feliz em todos os momentos. Aquele senhor não parecia feliz. Mas seguia sempre em frente.
"Anyway the wind blows
Doesn't really matter"
Imagem: "Old man walking in a rye field" de Lauritz Ring