domingo, 25 de outubro de 2015

Olhares e desencontros

Alguns olhares dizem mais que palavras e gestos. Foi o que ela sentiu, enquanto negava a si mesma o direito de deixar seus olhos fazerem o que tinham vontade. Mas por que não? Por que impedir e tolher esse direito que eles tinham, de olhar e procurar respostas? Foi algo que começou muitos anos atrás. Uma casa de campo, duas pessoas jovens demais para saberem lidar com o que quer que acontecesse. E nada aconteceu. Jovens demais, como eu já disse.

Mas olhares desencontrados continuaram acontecendo. Perturbando a paz e o equilíbrio. Um jantar, alguns shows, uma formatura, um casamento. Alguns esbarrões e vários desencontros. Ela solteira, ele noivo. Ele solteiro, ela namorando. Ela solteira, ele casado. Desencontros e olhares. Que ela não podia deixar se aprofundarem mais porque ele era agora casado. E não havia nada, afinal. Nada que lhe desse esperanças ou expectativas concretas. Eram apenas olhares.

E cada um seguia sua vida, nunca nem pensando em nada disso. Cada um para um lado; lados opostos da cidade, lados opostos da vida. Nunca lembravam de nada, um do outro. Apenas quando mais desencontros e olhares aconteciam. Nenhum toque, nenhuma palavra. Nenhum sorriso ou mesmo reconhecimento. Apenas olhares e a fuga deles. Então, algo acontecia, mas ninguém sabia exatamente o que era. Então, ela voltava a pensar: e se...?

Mas, então, o momento passava e as vidas seguiam. O mundo voltava ao eixo, às coisas reais e que fazem sentido. Nada nunca havia acontecido.



Imagem: Flickr - Creative Commons

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Resenha: As Vantagens de ser invisível

Num dia qualquer, no ano passado, assisti ao filme referente a esse livro (inclusive comentei em um post, um tempo atrás) e agora, por acaso, o livro caiu nas minhas mãos. Assim que comecei, só consegui achar que o livro ia ser meio bobo. O protagonista, Charlie, é mais infantil e mais inocente do que aparenta no filme e me dava uma espécie de vergonha alheia, por ficar chorando pelo colégio, em pleno High School. Depois, você termina entendendo a personalidade dele e, afinal de contas, é bom que ele chore. Significa que, naquele momento, não vai explodir de outra maneira.

A história é contada através de cartas, enviadas por Charlie. É como um diário, só que ele envia as narrativas para alguém. No começo, ele fala do único amigo que tinha e morreu e de como está nervoso em começar as aulas no High School, porque tem dificuldade de fazer amigos. Então, ele conhece Sam e Patrick, dois meios-irmãos, e se torna parte do grupo deles. E, como são pessoas de mentes abertas, fora dos padrões, bem diferentes do que ele costumava lidar, Charlie termina vivendo experiências que normalmente não viveria. Ele também acaba ficando amigo de seu professor de inglês, Bill, que passa o ano inteiro emprestando livros para ele ler. E, nesse ano letivo, Charlie vai amadurecendo, aprendendo coisas sobre si, sobre como lidar com pessoas e descobrindo coisas novas.

O livro tinha tudo para ser meio bobo, mas então, à medida que Charlie vai crescendo e se abrindo mais, a gente vai entendendo que as coisas na vida dele, e na cabeça dele, são mais inesperadas do que a gente achava. Uma das coisas que mais me chamou a atenção, nesse livro, foi como as personalidades são mais complexas do que parecem à primeira vista. A segunda coisa que chama a atenção é a delicadeza com a qual o autor escreve coisas, digamos, não muito delicadas. O livro inteiro é de uma delicadeza incrível.

Não é um livro cru, um livro que não usa meias-palavras; ainda assim, é um livro sincero e sem muito rebuscamento. Talvez por isso seja suave, mesmo quando fala sobre problemas grandes; porque não diz diretamente o que a gente quer saber, ao mesmo tempo em que tenta nos mostrar essas coisas. É um livro de descobertas. A gente se descobre, enquanto descobre mais sobre Charlie. Bill termina sendo um mestre e um amigo para todos nós, fazendo com que a gente pense muito nas suas palavras. Sam também tem grandes momentos. É um livro que nos faz pensar sobre amizade, sobre experiências, sobre nós mesmos e em como temos lidado com nossa vida; em como temos deixado nossas experiências nos transformar. Em como temos agido movidos por coisas que nós passamos e se isso é o certo a ser feito.

Pessoalmente, não achei um livro incrível, como já vi muita gente falando. Mas é um livro lindo. Realmente lindo. Ganhou meu respeito.

"Eu sei que tem pessoas que dizem que essas coisas não acontecem, e que isso serão apenas histórias um dia. Mas agora nós estamos vivos. E nesse momento, eu juro. Nós somos infinitos."


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Essa é uma resenha para o mês de outubro do Desafio Literário do Tigre de 2015, do blog da Tadsh: um livro que virou filme. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.