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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Resenha: Foras da Lei...

Na mesma ocasião em que comprei Bonsai, o livro do mês de fevereiro do Desafio, comprei este livro de contos aqui, de vários autores.

“Foras da lei barulhentos, bolhas raivosas e algumas outras coisas que não são tão sinistras, quem sabe, dependendo de como você se sente quanto a lugares que somem, celulares extraviados, seres vindos do espaço, pais que desaparecem no Peru, um homem chamado Lars Farf e outra história que não conseguimos acabar, de modo que talvez você possa quebrar esse galho.”
Este livro, cujo nome não vou sair repetindo por motivos óbvios, eu comprei por causa da capa, que é belíssima; pelas ilustrações do meio, já que dei uma folheada na livraria, antes de comprar; e também por nomes como Neil Gaiman, Nick Hornby e Lemony Snicket. Mais por Neil Gaiman, confesso. E qual não foi minha decepção quando, ao ler, vi que o conto de autoria dele presente neste livro era Pássaro-do-Sol; conto muito bom, mas que eu já havia lido no primeiro volume do Coisas Frágeis.

O livro é um infanto-juvenil. Vi muitas resenhas de pessoas xingando o livro justamente por não saberem que era infanto-juvenil. Eu gosto do estilo, então não fiquei decepcionada por isso. Fiquei decepcionada, porém, porque achei alguns contos bem razoáveis, uns até bem ruins. Não vou resumir todos, só dar uma geral e listar as minhas impressões. Vejamos:

  • Achei a introdução de Lemony Snicket interessante; mas não vi nada de especial no conto que ele começou e que a gente deveria ajudar a terminar.
  • O conto Pequeno País, de Nick Hornby, também achei legal, apesar do final previsível; sobre um menino que mora no menor país do mundo, não muito maior que uma vila.
  • Não gostei da história Lars Farf, pai e marido excessivamente temeroso, de George Saunders; acho um tédio história com lição de moral.
  • Monstro, de Kelly Link, achei bom, com um final legal e um bônus das ilustrações do monstro branco de mãos vermelhas.
  • As Competições de Cowlick, de Richard Kennedy: não achei muita graça, apesar de gostar de faroeste. Final previsível.
  • Vendidos Separadamente, de Jon Scieszka: WTF essa história? Uma história escrita só com slogans publicitários, talvez como uma crítica ao consumismo exacerbado dos últimos anzzzZZZZZZZ...
  • O Terceiro Desejo de Seymour, de Sam Swope: história sem graça, sobre um garoto que é filho de uma ogra, que não gosta de crianças. E ainda bem que avisaram no começo que o protagonista não era lá muito inteligente, porque ele só fez besteira.
  • Grimble, de Clement Freud: conto escrito em 1968, desnecessariamente longo, mas não achei propriamente ruim. Só chato; discordando de Lemony Snicket, que disse na introdução que não havia histórias chatas no livro.
  • Spoony-e Spandy-3 contra as hordas roxas, de James Kochalka: uma história em quadrinhos — e eu adoro quadrinhos, fiquem sabendo antes de me crucificar pela crítica — bem “WTF??”. Talvez eu não goste desse tipo de quadrinho, ou não esteja acostumada, ou não tenha entendido alguma coisa; mas achei bem sem graça, sem sentido, sem nada.
  • Pássaro-do-Sol, de Neil Gaiman, é simplesmente genial (Gaiman ), mas eu já tinha lido.
  • O Telefone da ACSE, de Jeanne DuPrau: taí, achei esse conto bem legal, bem fofinho, de um menino que encontra um celular perdido e termina encontrando um amigo.
  • O Sexto Distrito, de Jonathan Safran Foer, também é legal; achei interessante e criativo; sobre um lugar que muitas pessoas não sabem que existiu.
  • E as Palavras Cruzadas Tremendamente Difíceis do final: gosto de palavras cruzadas e fiz algumas, mas não terminei porque era 1h da manhã e eu estava com sono. Ou porque eram realmente difíceis.

No total, o livro não foi tão bom como eu esperava. Capa bonita, título incomum, proposta atraente: tudo que me levou a comprar estava ali, só faltou a leitura corresponder às expectativas.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Julgando pela capa: Bonsai

Eis que fui à livraria, a fim de escolher um livro pela capa, de acordo com a regra do Desafio deste mês. Achei que seria fácil, que era só pegar um livro de capa bonita, criativa, apresentável, e levar pra casa, mas... não consegui. Sei lá, achava um livro de capa bonita, aí lia a sinopse, achava meio nhé e pensava na possibilidade de estar em casa lendo e querer jogar o livro na parede. Passei uma hora só nisso. Foi quando encontrei uma bancada da Cosac Naify, com suas edições lindas de morrer, em promoção. E quis levar tudo. Depois de muita dúvida, muxoxo e palpite do namorado, acabei comprando dois: um só pela capa e outro pela capa e pelos autores. O segundo, achei que não valia para o desafio, então fiquemos com o primeiro.


O livro do desafio deste mês se chama Bonsai. Escolhi este porque a capa não só é linda, como é muito interessante (tem uma marcação pontilhada para você cortar o livro, mas claro que não cortei, antes que venham me xingar) e se torna ainda mais depois que você vai entendendo o livro. É a história de Emilia e Julio; a história do amor deles. Uma história sobre início e fim.

Como é dito no prefácio, "O que acontece é que tudo em Bonsai passa pela literatura". Emilia e Julio são dois jovens estudantes de letras que gostam de ler trechos de livros antes de fazerem sexo (ou 'trepar', como ela prefere chamar), porque achavam que sempre havia algo nos livros que seria inspirador o suficiente. Essa é a parte leve do livro. O fim da relação dá início à parte densa, a parte perdida, que acaba encontrando o final. E até o final passa pela literatura.

Foi uma experiência diferente procurar um livro pela capa, sem conhecer o autor (o chileno Alejandro Zambra, muito bom; inclusive já comecei a catar outros livros dele), e encontrar uma leitura interessante. Gostei bastante das metáforas, do caráter literário, dos personagens, do enredo, do final. A capa sozinha já é um show à parte, como o vaso de um bonsai. O livro é minúsculo, com menos de cem páginas e sem muitos floreios; a história, editada de modo a permanecer pequena, sem sair explorando cenários e personagens secundários. E toda a diagramação é feita de modo a poder tornar o livro uma árvore, que teria de ser podada, moldada e arranjada num belo vaso.

"Um bonsai consta de dois elementos: a árvore viva e o recipiente. [...] A seleção do vaso apropriado para uma árvore é, por si só, quase uma forma de arte."


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Esta é uma resenha para o Desafio Literário do Tigre 2014, do blog Elvis Costello Gritou Meu Nome. O tema de Fevereiro é "Julgando pela capa": escolher um livro levando em conta somente a capa, ler e resenhar. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Espere, eles dizem

De todas as coisas chatas da vida, esperar é uma que sempre fiz muito bem. Esperar meu pai ir me buscar no colégio. Esperava. Esperar terminar as tarefas de casa para depois ir brincar lá fora. Esperava. Esperar crescer para poder sair à noite, conversar assunto de gente grande, ver filme de gente grande. Era paciente, esperava. O que esperei com mais impaciência foi o dia em que ia começar a aprender a ler. Mas esperei.

Era uma menina quieta, introvertida, tímida, chata, meio no meu canto, não mexam comigo e estaremos bem. Se não tivesse companhia, brincava de boneca sozinha, até crescer o bastante para parar de brincar de boneca. Aprendi a fazer colares com miçangas, até perceber que não eram bonitos o suficiente para se usar; fazia e desfazia, então encostei. Aí, aprendi tapeçaria, a bordar ponto-de-cruz, desenhar, pintar, escrever poesias, até um pouco de artesanato, enquanto todas as minhas amigas só estavam interessadas em precipitar tudo, paquerar, encher o saco dos pais e tentar ir a festas em que não poderiam entrar. Depois, em beber e fumar para aparecer. Eu não via sentido em apressar uma coisa que aconteceria naturalmente (ou não, no caso do cigarro), nem queria. Esperei. E, hoje, tanta gente com saudade, querendo voltar e aproveitar mais. Eu tenho saudade, mas nunca quis voltar.

Acho que gastei minha paciência toda nessa época. Agora, é um tal de esperar as coisas acontecerem e, há muito tempo, nada acontece. E a coisa mais insuportável é estar neste limbo e não saber nem se algo irá de fato acontecer. Antes, a única coisa de que tinha certeza na vida é que chegaria onde estou. Pronto, cheguei, eu tinha razão. Agora, não sei se existe algo para depois. Estou aqui, me formei, me especializei, me preparei, sei fazer; o que falta? Cadê a verdade que sempre me disseram que existia, a recompensa pelo trabalho duro, o material pra continuar? A continuação de tudo. Quando será que chega?

Espere, eles dizem. As coisas vão se acertar. A cada ano novo, uma esperança de que tudo irá melhorar. E eu aqui parada, diploma na mão, tantas possibilidades, e a realidade fria de esperar para sempre.


"Don't keep me waiting here
Lead me to your door"